
Nesta quarta-feira, 6 de abril, o presidente do Pontifício Conselho da Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi, chegou ao Rio de Janeiro para participar do “Pátio dos Encontros”, nome adotado para o conhecido evento “Pátio dos Gentios”, que tem como objetivo promover o diálogo entre cristãos e não cristãos. O evento acontece até sexta-feira, dia 8, contemplando encontros com artistas, representantes de diversas religiões, intelectuais, políticos e universitários.
Acompanhado do arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, de seus bispos auxiliares, entre eles o organizador do evento, Dom Paulo Cezar Costa, o Cardeal Ravasi iniciou sua agenda com uma conversa/almoço na Federação das Indústrias do Estado (Firjan), junto a empresários e representantes da sociedade civil, onde pôde dialogar sobre a ética e o papel das lideranças como caminho para a construção da cultura da paz e do bem comum. Citando grandes mestres da literatura brasileira como Guimarães Rosa e Mário de Andrade, o cardeal destacou importantes aspectos sobre ética e economia, e demonstrou grande conhecimento sobre o Brasil e a atual conjuntura sócio-política do país.
“Desejo trazer minha reflexão recordando Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas, que há 30 anos escreveu o livro ‘Ética e Economia’, obra que começa a destacar que a separação da economia e da ética torna-se um empobrecimento da economia mais do que da ética. Este tema tornou-se cada vez mais relevante não só no Brasil, mas numa dimensão global, tendo em vista os muitos problemas e a corrupção, que já se tornou um componente estrutural da sociedade que está rachada por causa dessa estrutura”, refletiu.
Cardeal Ravasi também afirmou que não há mais um projeto político dentro de um contexto global, mas o interesse da gestão.
“No Brasil há um predomínio das finanças sobre a economia... Uma espécie de riqueza fictícia onde as finanças dominam naturalmente. E o que é economia? O compromisso com que a família humana viva bem na sua casa. As finanças não promovem isso, fazem morrer. Outro exemplo é a prevalência sobre a técnica, sobre a ciência. E também o triunfo dos meios esquecendo os fins. A sociologia se interessa pela pobreza social, ou seja, por uma questão social concreta. Mas não se interessa ou se preocupa com o sujeito, com os pobres. E o Papa diz que ao invés de destacar a pobreza deveríamos nos preocupar com os que sofrem, ressaltou.
Concluindo sua exposição, o presidente do Pontifício Conselho da Cultura destacou a gratuidade e a doação não nos sentidos moral ou religioso, mas econômico. Cardeal Ravasi defendeu ainda que países mais ricos e desenvolvidos deveriam contribuir para o crescimento das regiões mais pobres e assim gerar um equilíbrio global. Finalizando, deixou a passagem bíblica para reflexão dos Atos Apóstolos (At 20,35): "Porque há maior alegria em dar do que em receber".
O presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, conduziu o encontro, que abriu aos presentes a oportunidade de dialogar e fazer perguntas ao Cardeal. O anfitrião avaliou o evento como um momento de ânimo diante da atual situação política do país.
“É raro nós termos um encontro com essa densidade que nos anima desta forma, em especial, neste período em que nós brasileiros estamos tão machucados com tudo isso que estamos vendo e ouvindo. Essa foi uma oportunidade impressionante e é uma providência o Cardeal Ravasi ter marcado esta visita para esse momento tumultuado que nós estamos passando. O pronunciamento dele aqui hoje faz com que todos os presentes pensem ou repensem na responsabilidade que todos nós temos como sociedade”, disse Eduardo Eugenio.
O arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, também destacou o “Pátio dos Encontros” como uma bela oportunidade de suscitar em todo o Brasil o desejo de construir um país melhor, mais justo e fraterno, através do diálogo.
“Quando nós começamos a trabalhar esse assunto do Pátio dos Encontros aqui no Rio de Janeiro não imaginávamos que fosse acontecer justamente nessa época em que o Brasil precisa tanto do diálogo e do encontro. Eu creio que existem problemas sérios no país e, às vezes, há uma divisão muito grande das pessoas que tem opiniões diferentes, como é natural que aconteça cada um tendo a sua opinião de como resolver esses nossos problemas, mas nem sempre de maneira pacífica e fraterna. A vinda do Cardeal Ravasi neste momento aqui no Brasil, em especial, no Rio, que ecoa pelo país todo, é uma ótima oportunidade de dizer que é necessário – mesmo que pensemos diferente sobre as mais diversas realidades e tenhamos algumas posições divergentes –, dialogar, termos encontros, e, ao mesmo tempo, construir um país melhor nessa junção de todas as ideias e respeitando as diferenças, concluiu.
Foto: Vinícius Magalhães
06/04/2016 - Atualizado em 06/04/2016 19:48