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Obrigado, padre Lucio!Notícia - Obrigado, padre Lucio!

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São 50 anos dedicados à evangelização e ao trabalho em terras cariocas. Após esse período de trabalho dedicado a Deus e à Igreja, padre Lucio Zorzi se despede da Arquidiocese do Rio de Janeiro para uma nova missão: servir como sacerdote na Itália, país em que ele nasceu. Por isso, a Paróquia São João Evangelista, em Campo Grande, e todo Vicariato Oeste se reúnem para a despedida que acontecerá no dia 15 de maio, às 19h. A celebração da Santa Missa será presidida pelo Cardeal Orani João Tempesta.

DESCOBERTA DA VOCAÇÃO

“Minha família foi o ambiente propício para o surgimento de minha vocação. Meus pais foram grandes exemplos de fé, de amor a Deus e ao próximo. Isso fez nascer em mim um grande amor por Jesus Cristo, pela Igreja e a missão. Na adolescência, participei de um grupo para jovens chamado “Aspiranti de AC”, com a orientação do jovem padre Giovanni Costanzi, que também foi para mim um exemplo e estímulo para entregar minha vida a Cristo e aos outros”, contou.

Durante os anos de estudo no Seminário Diocesano de Trento, realizava-se o Concílio Vaticano II, divisor de águas no catolicismo. O então Papa João XXIII fez um apelo às dioceses dos países europeus para que enviassem padres fidei donum (dom da fé), que seriam sacerdotes missionários na América Latina.

“No seminário diocesano, senti, aos poucos, o chamado missionário: colocar-me a serviço da evangelização em qualquer lugar do mundo, onde fosse necessário. Por isso, fui um dos primeiros padres a entrar no Seminário para a América Latina, em Verona, no ano de 1963, onde permaneci até ser ordenado na Diocese de Bolzano no dia 17 de junho de 1964”, acrescentou.

CHEGADA AO BRASIL

O jovem sacerdote chegou à cidade carioca, junto a outro jovem padre recém-ordenado chamado José Melchiori, em 1966, e logo assumiu como vigário cooperador nas paróquias São Salvador do Mundo e, no ano seguinte, na Santa Clara, as duas em Guaratiba. Nesse mesmo período, ele foi coordenador de catequese e da Escola Pastoral Catequética (Espac), ambas no Vicariato Oeste, por nove anos. Ainda coordenou a equipe diocesana da Pastoral de Crisma, os Círculos Bíblicos Vicariais e foi membro do Conselho Presbiteral. Dois anos depois, mais um jovem chega à Zona Oeste para compor a equipe sacerdotal: padre Vicente Zambello.

“A região onde começamos nossa ação pastoral ainda não era paróquia e abrangia Pedra de Guaratiba, um bairro de pescadores, além dos bairros de Santa Clara e Monteiro, nos quais estavam surgindo diversos loteamentos populares, com pessoas vindas de diversos lugares do país. Em cada um dos bairros já existia uma capela. Formados pelo espírito do Concílio Vaticano II, procuramos logo seguir as diretrizes do Plano Pastoral de Emergência da CNBB, um dos primeiros frutos do Concílio, que naquele tempo já propunha a renovação das igrejas e a criação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)”, disse.

Para substituir o segundo pároco da Igreja de São João Batista que passara a atuar na Cúria Metropolitana, o então arcebispo, Dom Eugenio Sales, através do bispo auxiliar Dom Eduardo Koaik, convidou padre Lucio a assumir a paróquia. No dia 17 de dezembro de 1978, o jovem sacerdote foi acolhido pela comunidade numa solene celebração.

A partir do ano de 1978, padre Lucio também atuou como vigário forâneo da 4ª Forania do Vicariato Oeste e administrador paroquial da Paróquia Santa Rita, em Campo Grande, que era uma das capelas da Paróquia São João Batista.

UMA COMUNIDADE DE COMUNIDADES MENORES

Por conta da extensão paroquial, foi necessário criar mecanismos para a evangelização. Padre Lucio adotou o sistema de comunidades de comunidades, expressão usada pelos bispos da América Latina reunidos em Aparecida, em 2007.

“O surgimento das Comunidades Eclesiais de Base se deu a partir de pequenas missões populares realizadas nos bairros e loteamentos da paróquia, em ocasião do mês de Maria, do Santo Rosário. O ponto de partida eram as devoções populares, mas desde o começo procuramos congregar o povo com a Bíblia na mão: lendo, refletindo e orando a Palavra de Deus. Procuramos ser ‘Comunidade de comunidades’. Fundamos em cada localidade um círculo bíblico, pensados para serem autênticas sementes de CEBs vivas da paróquia no meio do povo. Em 1967 éramos dez; depois aumentamos para 23 e em 1980 já tínhamos 32 CEBs”, disse padre Lucio.

Além das CEBs, os círculos bíblicos também continuaram crescendo. Em 1980 eram 485; em 1995 eram 1009; em 1999 já somavam 1210. Algumas das mais novas paróquias nasceram a partir das sementes plantadas pelos círculos bíblicos, que se espalharam pelos vicariatos e, consequentemente, por toda arquidiocese.

Após assumir como pároco na Paróquia São João Evangelista, padre Lucio deu continuidade ao trabalho com as pequenas comunidades. Com a ajuda de alguns leigos, foram implantados 18 círculos bíblicos nas localidades mais distantes da igreja. Também foram abertos centros catequéticos. Nesse mesmo ano, foi criado o símbolo das CEBs: a margarida, no qual cada pétala representa uma comunidade.

“O mais importante é que nenhuma das comunidades fundadas morreu. Mesmo com as dificuldades, aos ‘trancos e barrancos’, todas continuam a caminhada de Igreja viva no meio do povo. Agradeço ao Espírito Santo do Senhor por isso, pois Ele fez nascer a Igreja de Jesus em Pentecostes e fortalece também as CEBs. Por esse motivo, tanto aqui quanto em todo o país celebramos o Dia das CEBs na Solenidade de Pentecostes”, afirmou padre Lucio.

Os encontros dos círculos bíblicos acontecem semanalmente e neles os fiéis se comprometem com a visita aos enfermos e em dar assistência aos mais necessitados daquela região. Dessa forma, a Igreja está sempre atuando nas missões populares constantes, nas realizações da Novena de Natal, animando a população para as Vias-Sacras, Missas, orações. Cada CEB possui um núcleo para a iniciação cristã de crianças.

“Numa palavra, as CEBs são a Igreja viva e evangelizadora no meio do povo. Elas possibilitam que muitos leigos, através dos dons dados por Deus, assumam serviços concretos para a construção da Igreja e do Reino”, concluiu.

Outra atuação da paróquia é o cuidado com a catequese, na qual o pároco Lucio participa ativamente. Ainda segundo o sacerdote, o número de jovens e adultos que buscam os Sacramentos da Fé cresce constantemente. Padre Lucio é autor dos livros: “Projeto para um mundo novo: Catequese para Pré-Adolescentes”, Paulinas (1975); “Gente em busca de algo mais: Catequese para Crisma”, Paulinas (1977); “O que é ser cristão: Catequese para adultos”, Paulinas, com a equipe do Centro de Orientação Pastoral Catequética (Copac) do Vicariato Oeste (1978).

TESTEMUNHOS

O trabalho e o serviço de padre Lucio marcou a vida de muitos paroquianos ao longo desses 50 anos. O padre italiano, que chegou ao Brasil ainda jovem, fez com que um povo, por vezes esquecido, conhecesse aqu’Ele que jamais abandonaria Seus filhos. Mais do que um sacerdote, para muitos padre Lucio tornou-se um membro da família. É o caso de Cátia Machado. Ela contou que o sacerdote é padrinho de batismo de seu irmão e que a família dela foi marcada pela grande amizade com o sacerdote.

“Padre Lúcio chegou em nossas vidas há 37 anos. O que sempre nos chamou a atenção é sua capacidade e vontade de servir, a entrega total pela causa do Evangelho. Minha mãe sempre diz que tem nele um grande amigo e carrego o mesmo sentimento. Ele marcou nossa família pela amizade. Passado esse tempo posso afirmar que esses anos ficarão registrados em nossa memória”, contou Cátia.

Desde fevereiro, padre Antônio José dos Santos assumiu como vigário paroquial. Mesmo com pouco tempo, a fraternidade e a unidade entre os sacerdotes tornou-se firme. Padre Antônio ressaltou o grande conhecimento do pároco sobre a Igreja e a profunda intimidade com Deus através da evangelização.

“É um curto período, porém o suficiente para ter aprendido muito com o padre Lucio. Em uma conversa com Dom Orani, falei ao cardeal que em minha formação sacerdotal passei por dois importantes períodos formativos: o Seminário Arquidiocesano de São José e a valiosa experiência adquirida com o padre Lucio. Rezávamos as Laudes pela manhã, conversávamos sobre as pastorais da paróquia e nas entrelinhas eu percebia e mergulhava no incalculável conhecimento que ele tem sobre a Igreja, o Concilio Vaticano II, as Conferências Episcopais Latino-Americanas. O mais belo é perceber que ele traduziu tudo isso em sua evangelização. Posso testemunhar que “Ele é um exímio evangelizador”, ou seja, um fiel cumpridor de um dos últimos pedidos de Jesus Cristo: “Ide pelo mundo e evangelizai a todos” (Mc 16,15)”, ressaltou o vigário.

Amigos há 49 anos, José Luís Soeiro Barbosa destacou o espírito missionário do sacerdote. Ele contou ainda que padre Lucio sempre pensou no bem da comunidade, e que certa vez se colocou à frente de um trator para impedir a destruição de uma das capelas.

“Padre Lúcio sempre teve um espírito missionário. A missão, o trabalho que é atuar mais junto ao povo, me cativou. Não aguentava mais a missa pela missa, e esse sentimento vem desde a minha infância. Ele é muito responsável, honesto, de um caráter muito forte. Vemos nele uma pessoa que inspira confiança. Tem gênio forte, mas sempre pensando no bem comum. Padre Lucio nunca se colocou como sendo o principal; essa era sua marca. Sempre colocou o fruto de seu trabalho em beneficio do próximo. O que mais me marcou foi quando, em 1972, um grileiro, que é uma pessoa que se apropria de terras alheias, estava tomando todas as terras, e na época a gente começaria a construir a Paróquia de Santa Clara. Como o homem queria derrubar o que havíamos construído, padre Lucio permaneceu na frente do trator para impedir a derrubada. Estive na Itália, na paróquia onde ele nasceu, e eu digo que hoje padre Lucio faz muito mais falta lá do que aqui. Nos entristecemos um pouquinho, mas os paroquianos foram preparados para isso. Na Itália há uma necessidade muito grande de sacerdotes; ele ainda tem muito a fazer na terra dele. E aqui vamos seguir tendo a mensagem e os ensinamentos dele para a paróquia crescer, sendo comunidade de comunidades. Meu testemunho representa o de muitos fiéis que gostariam de expressar também o seu carinho ao nosso pároco”, completou José.

O paroquiano Roberto Alcir Carvalho lembrou que muitas paróquias foram fundadas na região a partir dos círculos bíblicos implantados na região pelo pároco. Ele ainda disse que será difícil ver a paróquia sem padre Lucio.

“Nunca vi padre tão trabalhador quanto padre Lucio. Ele é muito dedicado. Por isso digo que não faz para agradar os paroquianos, ele faz a vontade de Deus. Quando ele chegou em Rio da Prata só tínhamos círculos bíblicos que hoje se multiplicaram. Um deles se transformou na Paróquia Santa Rita de Cássia. Vai ser difícil ver a paróquia sem padre Lucio. Fui um dos primeiros catequistas e sei que ele é bravo, mas tem um coração de ouro e sempre foi atencioso com todos. Para mim, ele é São Paulo do século 21”, concluiu Roberto.

Já para o cônego José Mazine, o trabalho de padre Lucio permitiu que o Evangelho alcançasse muitos lugares. Com o desejo de servir mais e melhor, o cônego recordou que todo o dinheiro do sacerdote era usado para a construção de mais capelas. Por isso, os ensinamentos e o legado permanecerão, mesmo após a partida do sacerdote para a Itália.

“O padre Lucio é um grande apóstolo da Igreja. Ele expandiu a Igreja, fazendo-a crescer através das comunidades de base. Fez naquelas comunidades, em média, 32 capelas. O Evangelho chegou a muitos lugares através dessas comunidades, do trabalho após a comunhão, com os ciclos bíblicos, com o trabalho da farmácia popular que tem lá, com os remédios naturais numa farmácia. O Evangelho cresceu muito naquela comunidade. Tudo graças ao trabalho dele. Padre Lucio, um homem pobre, não tem nada. Não ganhou dinheiro para si. Gastou tudo em prol da comunidade. Ia à Itália, trazia dinheiro, comprava terreno e não tinha receio em construir uma capela, até mesmo quando ofereciam essas terras a ele. Fez capelas em cima de pedras, em beira de rios, em muitos lugares. Aprendi muito com esse sacerdote. Realmente, ele vai deixar uma lacuna muito grande, se cansou muito trabalhando aqui, mas sempre com alegria. Nunca foi um trabalho triste, porém sempre alegre ao levar Jesus aos lares e às comunidades. Creio que vamos perder um grande amigo, mas o testemunho e o legado dele ficam para muitas gerações. Padre Lucio vai deixar saudades, mas vamos mantê-lo sempre vivo em nossa memória”, ressaltou o cônego.

Foto: Symone Matias
 

14/05/2016


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