Na segunda conferência do Curso dos Bispos, Dom Rino Fisichella destacou o intenso pontificado do Santo Papa, que convoca toda Igreja a sair de seus próprios muros e adentrar nas periferias existenciais e humanas, compreendendo sobre quem é a Igreja e sua dimensão missionária, para onde ela deve ir e como voltar a ser uma comunidade que celebra a Eucaristia na história e na vida pessoal de cada cristão.
“Podemos considerar três aspectos que me parecem determinantes no magistério do Papa Francisco: a fé, o ensinamento que emerge da “Evangelii gaudium”e a misericórdia, como coração pulsante da nova evangelização. [...] De fato, o ensinamento do Papa parece que progride em torno de uma impressionante circularidade: o amor gera a fé e a fé que sustenta o amor. [...] Parece que o Papa nos diz que, para entrar na coerência do conhecimento dos conteúdos da fé e dar testemunho, é preciso armar-se com as ‘razões do coração’”, disse.
“Tocar o coração, isso é crer”
De acordo com Dom Rino, tanto na primeira encíclica, “Lumen fidei”, quanto na “Evangelii gaudium”emergem o tema do amor, como se o Pontífice dissesse que, para ter coerência no conhecimento da fé e dar testemunho, é necessário “armar-se com as razões do coração”.
“É o amor que consente que os crentes construam sua vida sobre a rocha e não sobre a instabilidade da areia. É o amor que permite reconhecer as necessidades dos outros, não como realidade estranha, mas como irmãos que sofrem e estão em necessidade. (...) Numa palavra, o coração tocado pelo Espírito Santo permite que se reconheça Jesus como o Cristo”, pontuou.
O primado da contemplação
“A evangelização faz-se de joelhos”. Essa foi a afirmação feita pelo Papa Francisco, e ressaltada por Dom Rino, para expressar que a contemplação deve ocupar o primeiro lugar. Ela acontece antes da ação, uma vez que é preciso fixar os olhos em Jesus. Sendo o bispo, este deve ser o chamado de cada cristão: viver de Cristo para saber comunicá-Lo e fazer com que os outros tomem parte nele.
“A via da contemplação do rosto de Cristo, que nos permite fixar-nos no próprio rosto de Deus, não nos desvia para caminhos solitários, mas nos impõe uma contemplação do irmão. O Papa Francisco é provocador, mas aponta o dedo para aquilo que, não raro, fica esquecido: ‘A contemplação que deixa de fora os outros é uma farsa’. A contemplação é, portanto, um comprometimento global. Ela incide sobre o crente em toda a sua existência, sem permitir qualquer esquizofrenia”, ressaltou.
O compromisso do cristão no mundo
Outro ponto apontado por Dom Rino foi com relação à transmissão da fé que, segundo ele, envolve de modo direto cada cristão, uma vez que todos são chamados a fazer com responsabilidade como forma de nova evangelização.
“A síntese encontra-se nos três verbos: caminhar, construir, confessar. A identidade do crente está em caminhar no mundo, fazendo companhia aos nossos contemporâneos; não está em ficar encerrado nas nossas paróquias, sentado à secretaria. Construir é dar ao anúncio do Evangelho um rosto digno de fé; isso implica numa reflexão sobre a dimensão social da evangelização. Confessar é a identidade do batizado. Antes de confessar a doutrina, é preciso professar o amor misericordioso de Deus com a vida”, complementou.
Misericórdia, coração da evangelização
Neste último ponto abordado, Dom Riso destacou que todo o caminho percorrido no Jubileu da Misericórdia, vivenciado em 2016, foi sintetizado pelo Pontífice em duas palavras, título da carta apostólica divulgada logo após o encerramento do Ano Jubilar: “Misericordia et misera”.
Ele ainda acrescentou que, com esses dois termos, Santo Agostinho pintou a imagem final do encontro de Jesus com a mulher adúltera. Após Cristo ter respondido aos escribas e fariseus com as palavras: “Aquele que dentre vós está sem pecado, que seja o primeiro a lhe atirar uma pedra” (João 8,7). Todos foram embora. Porém, somente dois permaneceram: a mísera e a misericórdia.
“Nas palavras de Jesus não está presente o julgamento de condenação, mas antes a profunda experiência da misericórdia que salva e restitui uma nova vida. A pecadora não tem nome e identifica-se, justamente por isso, com cada um de nós. O rosto bom e a voz pacata e convincente de Cristo, tal como salta o relato evangélico, são as mesmas características que cada sacerdote é chamado a fazer suas, para que o encontro no Sacramento da Reconciliação possa ser percebido concretamente como um momento palpável de misericórdia gratuita”, completou.
Dom Riso também destacou a preocupação do Pontífice em refletir sobre as famílias. Diante de tantas crises, a família é uma das mais afetadas, a qual se deve, também, chegar as palavras de consolo e encorajamento. O Papa Francisco destacou na encíclica “Amoris laetitia”que “A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja”. Dessa forma, a “Misericordia et misera” faz eco da “Amoris laetitia”.
Fotos: Gustavo de Oliveira
25/01/2017 - Atualizado em 25/01/2017 14:30