
O mais novo de 15 filhos, Márcio Sérgio Oliveira de Queiroz completou, no dia 13 de setembro, 20 anos de ordenação sacerdotal. As comemorações foram muitas: em sua cidade de origem, Quixadá, no interior Ceará, o arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, presidiu a missa em ação de graças, no dia 23 de setembro, no Santuário Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão. Entre os concelebrantes estavam Dom Edson de Castro Homem (bispo de Iguatú - CE), Dom Ângelo Pignoli (bispo de Quixadá), Dom Roque Costa Souza (bispo auxiliar do Rio) e Dom Adélio Tomasin (bispo emérito de Quixadá). A celebração foi seguida de festa comemorativa organizada pela família. Também houve missa comemorativa com fiéis de sua paróquia, em Botafogo.
O sacerdote, que conviveu com São João Paulo II, ao fazer a retrospectiva de sua vida sacerdotal, assegurou que, se hoje tivesse a oportunidade de recomeçar sua caminhada, faria tudo de novo, da mesma forma.
“Uma vez o reitor do seminário me perguntou, logo na minha primeira entrevista, o que eu seria se não fosse padre. Respondi que seria padre. E ele me disse que esse era um grande sinal de vocação porque eu só tinha uma meta”, contou.
Primeiros anos
Atualmente, padre Márcio é pároco da Paróquia Nossa Senhora da Esperança, em Botafogo; chefe de gabinete do arcebispo; coordenador arquidiocesano da Pastoral da Comunicação (Pascom); membro do Colégio de Consultores e membro da Comissão de Recuperação de Patrimônios da arquidiocese. Antes de exercer o ministério na Arquidiocese do Rio de Janeiro, ele viveu na Diocese de Quixadá até os 22 anos, quando foi morar em Roma para fazer a formação que o levaria ao sacerdócio.
Ele chegou a Roma sem saber falar italiano e aprendeu o idioma em três meses, porque teria que fazer as provas do Seminário Filosófico Teológico Internacional João Paulo II, onde se formou e do qual foi vice-reitor anos depois.
O primeiro abrigo que recebeu na Itália foi na casa da Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência. “Lá, aprendi a confiar na Divina Providência. E a ter humildade porque somos aquilo que testemunhamos”, recordou.
Teve que sair da casa porque o local foi transformado em noviciado. Foi então que passou a residir no Seminário Filosófico Teológico Internacional João Paulo II, onde ficou até a ordenação presbiteral, que aconteceu na Diocese de Quixadá, pela da imposição das mãos de Dom Adélio Tomasin, hoje emérito. Ao ser ordenado, adotou o lema “Sede misericordiosos”.
“Foram anos muito interessantes em Roma. Eu peguei toda a fase do então Papa João Paulo II: o seminário era muito dedicado a ele, e ele ao seminário. Tive a alegria de ter a primeira provisão entregue por ele. A provisão de vice-reitor do seminário”, contou o sacerdote.
Segundo ele, São João Paulo II sempre dizia que o seminário precisava formar “homens de Igreja”.
“Isso significava formar pessoas que vivessem dedicadas integralmente à Igreja. Não são funcionários, e sim, servidores. Eles servem à Igreja. Eles vivem a Igreja. Não são seres afastados, mas inseridos. E de tanto ouvir isso, quis me especializar em eclesiologia”, disse.
A dissertação de mestrado dele foi, então, sobre a fraternidade sacerdotal, e a tese de doutorado, sobre a pastoral presbiteral. “São temas muito ligados a essa questão do homem de Igreja”, assinalou.
Ele é formado em Pedagogia, Teologia e Filosofia. Fez mestrado em Teologia Sistemática (eclesiologia) e doutorado em Teologia.
De volta ao Brasil
Quando voltou para o Brasil, padre Márcio foi nomeado ecônomo da Diocese de Quixadá. Depois foi professor do seminário, diretor administrativo financeiro e diretor geral de um colégio da diocese. “Estávamos começando a criar os cursos de Filosofia e Teologia. Por isso, o bispo me enviou para Roma para que eu voltasse com uma boa formação para ser professor”, explicou.
Em 2003, ele veio para o Rio fazer o doutorado na PUC-Rio. Ficou provisionado como vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Copacabana. No intervalo de tempo do curso, o bispo de Quixadá mudou. O planejamento foi refeito. Foi quando o bispo auxiliar Dom Assis Lopes, hoje emérito, pediu para que ele ficasse na Arquidiocese do Rio. Foi assim que, em agosto de 2014, padre Márcio foi incardinado na Arquidiocese do Rio.
JMJ
Padre Márcio coordenou o setor de Comunicação na Jornada Mundial da Juventude em 2013, sediada no Rio. Sobre a experiência, ele contou que foi “uma aventura” que Deus deu a ele como desafio. O legado foi positivo, segundo ele, e se reflete até hoje nas relações criadas durante o evento, que ajudam a abrir portas para resolver questões arquidiocesanas. “Eu costumo dizer que somos um ‘brinquedo de Deus’ porque ele faz cada aventura conosco que é impressionante”, brincou.
Foi também durante a Jornada que padre Márcio, então pároco da Paróquia Nossa Senhora do Bonsucesso de Inhaúma, em Bonsucesso, recebeu a visita do Papa Francisco na Comunidade de Varginha, em Manguinhos. A comunidade ficava em seu território paroquial. Durante a visita, o Papa não deixava padre Márcio sair de perto.
“Ele queria saber tudo! O que estava escrito nas faixas, o significado de cada coisa... Quando foi visitar uma família na comunidade, eu contei que eles eram os responsáveis pelos Círculos Bíblicos de lá. Ele me respondeu: ‘Vê-se que sim, porque a Bíblia deles é bem manuseada’. E foi então que eu percebi que a Bíblia apresentava marcas de utilização. Ele estava atento a todos os detalhes”, contou o sacerdote, que ficou feliz por poder estar ali naquele momento especial.
Contrastes
Segundo padre Márcio, cada paróquia tem uma característica própria. Na paróquia de Copacabana, onde ficou pela primeira vez, observou uma pluralidade maior de religiões e de nacionalidades, entre outras coisas.
Já em Bonsucesso, a realidade é diferente porque são pessoas fixas. Durante o tempo que ficou lá, ele conta que aprendeu a conviver com uma realidade completamente nova, e entendeu a opção preferencial de Jesus pelos pobres.
“A questão da violência muitas vezes me fazia pensar bastante. Porque de certo modo, eu estava ali de passagem. Mas e quem está ali vivendo aquela realidade diariamente, sem ter para onde ir? Sempre me coloquei muito no lugar dessas pessoas. Isso foi fazendo com que eu tivesse um bem querer pelos ‘prediletos’, pelo testemunho de vida que eles me davam, talvez sem nem saber. É um povo muito resistente, muito trabalhador e muito perseverante. Eles têm uma energia e uma força contagiantes. E conviver com aquela realidade faz com que transformem o medo em coragem de realizar as coisas. Eu encontrei muita gente boa, em todos os sentidos”, afirmou.
Ele também ajudou a formação da Capela São Miguel Arcanjo, na comunidade Nelson Mandela, criada no dia 1º de setembro deste ano, depois de 21 anos de preparação.
“Esse sonho já vem antes de mim. Quando a Pastoral de Favelas começou seu trabalho, já entendiam que ali poderia ser uma paróquia. Foi criada então uma paróquia em potencial. Fomos percebendo a necessidade de uma presença cada vez maior e amadurecendo a ideia até que se tornou paróquia. Mas o que mais contou foi a fé e a persistência do povo da comunidade”, disse.
Para a paróquia que administra atualmente, padre Márcio está programando uma reforma na fachada devido a um problema de adaptação encontrado. “Ela está situada numa rua de passagem e arquitetura da fachada faz com que se confunda com os outros prédios. Queremos dar a ela mais cara de igreja”, afirmou.
Descoberta da vocação
Padre Márcio contou que o primeiro chamado que recebeu foi por volta dos 12 anos. Mas foi desencorajado por um padre, que era inclusive seu padrinho. “Ele me disse que as pessoas procuravam o seminário para se formar, uma vez que era difícil concluir os estudos no local. Mas anos depois, eu trabalhava na Secretaria de Educação, estava formado e o chamado persistia”, relembrou.
Foi então que decidiu entrar para o seminário e começou sua formação. A princípio, a mãe não recebeu bem a notícia porque ele estava noivo. “Acho que ela pensava que o casamento seria a minha felicidade. Mas depois que eu comecei a caminhada, ela abraçou a causa e está comigo até hoje. Acredito que quem mais reza por mim hoje é ela”, contou. Maria das Graças de Oliveira, hoje com 77 anos, foi uma das maiores motivadoras da festa de comemoração ocorrida em Quixadá.
“Fico muito feliz por Dom Orani ter presidido a celebração no dia 23, porque sempre digo que ele é um grande testemunho de vida apostólica e de homem de Deus. Aquilo que eu tanto ouvia de São João Paulo II, eu vejo em Dom Orani. Ele é um homem de Deus, respira Igreja. Tê-lo nesse momento para mim foi um motivo de grande alegria”, frisou ele.
28/09/2017 - Atualizado em 28/09/2017 20:10