
O programador musical e apresentador da Rádio Catedral Antonio Jorge Cavalcanti Netto faleceu no fim da tarde de segunda-feira, 24 de agosto, aos 59 anos, de um câncer no cérebro diagnosticado há mais de um ano.
A missa de corpo presente no Cemitério São João Batista, em Botafogo, foi celebrada pelos diretores da Fundação Rádio Catedral, cônego Marcos William Bernardo e padre Klepler Magalhães.
Natural de Petrópolis, Região Serrana no Rio de Janeiro, Ele chegou à Rádio Catedral em 1995, portanto, há 20 anos.
A história do jornalista e radialista se entrelaça com a da Rádio Catedral. No início da emissora, o diretor na época, Adionel Carlos da Cunha, o trouxe para trabalhar com ele como produtor executivo e, logo depois, Antonio Jorge passou a coordenar a programação musical. Apaixonado pela MPB, foi convidado por Adionel a idealizar e apresentar um programa. Desde então, marcou as noites da Rádio Catedral com seu estilo musical no programa “Forma Instrumental”, durante 20 anos.
Com o auxílio do amigo Adionel, Antonio Jorge produziu o CD “Forma Instrumental” com o selo Rádio Catedral. Depois nasceram os programas “Receita de Música” e “Panorama Musical”. Cidadão comum, exímio trabalhador e amante da boa música, realizou com dedicação sua missão de comunicador.
Compromisso com o bem e o belo
“Temos a certeza de que convivemos com alguém que somou positivamente em nossa vida”, disse monsenhor Aroldo da Silva Ribeiro que foi diretor da Rádio Catedral durante 12 anos.
O diretor geral da Rádio Catedral FM, cônego Marcos William, recordou o trabalho desenvolvido: “Ele tinha sensibilidade para a boa música. Isso é arte e Deus se comunica através da arte. Essa era a forma em que ele comunicava com Deus”.
Somada à música, outra paixão de Antonio Jorge era o rádio. Toda a trajetória profissional é marcada por este veículo de comunicação que escolheu para consumir sua vida. “Ele não tinha hora e nem dia. Bastava que a emissora o chamasse que prontamente ele se colocava à disposição para o trabalho”, relembrou o diretor financeiro, padre Klepler.
No dia 25 de agosto, dia do sepultamento, a Catedral 106,7 FM exibiu um programa especial no mesmo horário e com o mesmo nome do seu programa favorito. O apresentador foi o amigo e locutor Sidney Ferreira, que o conduziu com emoção, trazendo os depoimentos de muitos amigos, além de uma seleção musical impecável. O arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, deixou sua mensagem.
“Nós, através do cônego Marcos William, fomos representados na missa de exéquias na volta ao Pai do Antonio Jorge Cavalcanti Netto. Tivemos aqui sua presença em todo o momento da Rádio Catedral, uma vez que ele foi um dos primeiros que vieram para dar qualidade musical, trazendo esse compromisso com o bem e o belo. Depois de uma doença que o vitimou, durante o tempo que sofreu, nós pedimos a Deus que o acolha na sua misericórdia e bondade e que sua família receba o consolo que vem de Deus na certeza da vida eterna àquele que parte. Ele que soube admirar o belo e se preocupar com a beleza musical, possa agora enxergar e encontrar em Deus a beleza infinita, a beleza eterna e ser feliz junto do Pai. Rezamos pelo seu repouso eterno para que Deus acolha e para seus familiares a fim de que tenham o consolo que vem de Deus.”
Muito querido
Também o diretor adjunto e de programação, padre José Brito Terceiro, relembrou momentos do radialista. Padre Brito e Antonio Jorge tinham uma relação para além do trabalho: eram amigos. “Ele não morreu. Sua história no mundo da música vai nos deixar saudade. Quem não lembra do apaixonado Antonio quando nos encontrava e dizia: hoje estive com meus amigos músicos; e ia citando um a um. Esse era ele – o apaixonado e eterno amante da música instrumental e popular brasileira. Ele não morreu, apenas, está do outro lado.”
Antonio Jorge trabalhou com muitos artistas da MPB. Músicos que se tornaram grandes amigos de parcerias, projetos e que sempre estavam presentes no programa “Forma Instrumental”. “Era um profissional que tinha muito amor pelo que fazia; isso não tem dinheiro que pague! Para quem trabalha com o que gosta, todo dia é feriado. Nós perdemos um grande profissional, um grande radialista. Um cara que se interessava pela música brasileira,” afirmou o maestro Gilson Peranzzetta.
O músico e professor de música brasileira Mauro Senise lembrou o quanto a música instrumental é grata pelo trabalho que ele desenvolveu. “Acho que quase todos os músicos, principalmente da linha instrumental, têm o Antonio Jorge como uma pessoa muito querida. Temos uma grande gratidão e um carinho especial por ser essa pessoa sensível e estar do nosso lado. Ele sempre fez o programa dele com entrevistas interessantes, ouvia os nossos discos, fazia comentários. A gente via o envolvimento dele com a música instrumental, com a nossa música, e isso nos aproximou muito”, contou o saxofonista.
Trajetória profissional
Antes de trabalhar na Rádio Catedral, Antonio Jorge esteve em outras emissoras. Começou a carreira em 1982 como produtor na Rádio Universidade Católica de Petrópolis, sendo pioneiro na criação de um programa específico de música instrumental brasileira que permaneceu até 1999.
Também trabalhou no Caderno B do “Jornal do Brasil” como crítico e repórter de música, bem como em diversos jornais e revistas. Começou na Rádio MEC em 1989 como programador e produtor, e idealizou o programa “Caminhos do Jazz”. Em 1990, passou a coordenar o “Concerto MEC”. Trabalhou com diversos artistas da música popular como: Paulinho Trompete, Raul Mascarenhas, Marcos Resende, entre outros.
Realizou várias produções fonográficas, como o “Brazilian Jazz”, do guitarrista Ademir Cândido (1995), e “Momentos” do baterista César Machado (1997). Também atuou na produção de shows em teatros e secretarias de Cultura.
Foto: Gustavo de Oliveira
28/08/2015 - Atualizado em 03/09/2015 15:51