
Preocupada com os desafios para a unidade e a paz nas grandes cidades, a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro vem promovendo uma extensa agenda com cardeais da Santa Igreja, e tem por objetivo não só refletir sobre os cenários e perspectivas atuais, mas também deseja pensar e criar ações concretas que contribuam para a superação dessas limitações. A finalidade é utilizar as contribuições dos conferencistas (o arcebispo de Barcelona, Cardeal Lluís Martínez Sistach, o presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, e o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch) e o diálogo dos mesmos com a Igreja no Rio em suas diversas expressões no próximo 12º Plano de Pastoral de Conjunto da Arquidiocese – com previsão de início de preparação para 2016.
Dentro desde contexto foi que o presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, realizou sua conferência para leigos, consagrados e diáconos permanentes no dia 31 de agosto, no auditório do Edifício João Paulo II, na Glória. O encontro foi aberto pelo arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta.
Com características que lembravam a todo o momento a simplicidade do Papa Francisco e a disponibilidade para acolher e ouvir o outro de Dom Orani Tempesta, Cardeal Turkson iniciou a palestra contando sobre sua experiência de visitar o Cristo Redentor, e, muito à vontade, informou que apesar de ter preparado sua apresentação em slides, gostaria de falar aos participantes espontaneamente sobre a temática que lhe foi proposta para o encontro – como difundir a cultura da paz nas grandes cidades –, tendo como ponto de partida o Rio de Janeiro, mas pensando de forma mais ampla no Brasil e no mundo.
“A Igreja é a família de Deus e essa é a sua natureza. Uma família em comunhão, unida, solidária e em harmonia que busca ser construtora da paz. Igreja, família de Deus. Esse é o significado que quero designar neste nosso encontro, e convido a todos a aceitarem esta realidade. E sobre essa ótica, os bispos reunidos em Aparecida, em 2007, também aceitaram e expuseram no Documento de Aparecida a Igreja como família de Deus que gera comunhão, reconciliação, justiça e paz. (..) O desejo desta arquidiocese de trilhar um caminho de paz nos faz próximos, e a Igreja no Rio deve fazer deste período um momento histórico. Isso acaba se tornando um desafio para todos nós, mas temos que abraçar esta missão com comprometimento, sabendo que poderemos correr alguns riscos nesse desafio”, disse Cardeal Turkson.
O presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz afirmou ainda que, ao aceitar o desafio de lutar pela paz, todos devem compreender que a comunhão é a natureza da Igreja e de todos os cristãos, que devem tornar essa realidade possível através da justiça social, da luta contra os males e da oração. Para ele, o desafio também consiste em mostrar o valor do Reino dos Céus na Terra e compreendermo-nos como família de Deus, ou seja, Igreja, pois isso nos faz desenvolvermos uma cultura de paz em todo o mundo.
“Após o Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI defendia a ideia de que só se acabaria com a pobreza através do desenvolvimento. Ele pensava esta perspectiva não só no âmbito social, mas também como um desenvolvimento para paz. Quando as pessoas não têm desenvolvimento criam tendências para o mal. Se queremos paz, temos que garantir o desenvolvimento, defendia ele. Já o Papa João Paulo II acolheu a exortação de Paulo VI complementando e transformando este olhar para um desenvolvimento integral que abrange toda a pessoa e seu desenvolvimento humano. Nosso Papa emérito, Bento XVI, dá continuidade a essas importantes reflexões e contribui trazendo nosso olhar para o desenvolvimento social e até da própria paz, o que acredita ser fundamental para o mundo”, ensinou Cardeal Turkson.
Ainda dentro deste raciocínio cronológico sobre como a Igreja vem observando, trabalhando e implantando a cultura da paz, o presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz ressaltou o desejo do Papa Francisco.
“O Papa Francisco usa todas as orientações de seus antecessores, e desde a sua posse fala das periferias e como elas são excluídas. E foi a partir dessas indicações que o Santo Padre e o nosso dicastério defende a economia da inclusão, o abraçar a todos. Se o desenvolvimento excluir sempre haverá violência; se todos forem incluídos teremos paz. E é importante ressaltar que o Papa não é contra o capitalismo, mas afirma que devemos incluir todos para que todos sejam protagonistas. O Papa está nos dizendo: a paz que a gente deseja pode ser alcançada com desenvolvimento, mas enquanto houver a divisão ricos e pobres nunca a alcançaremos. Francisco está tentando promover o sistema inclusivo e, com isso, alcançar a harmonia e a cultura de paz que todos nós desejamos para o Rio, para o Brasil e para o mundo”, concluiu.
Foto: Gustavo de Oliveira
02/09/2015 - Atualizado em 02/09/2015 18:20