O secretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso (PCDI), Dom Miguel Ángel Ayuso Guixot, dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus (MCCJ), ministrou três conferências no Curso Anual dos Bispos, todas relativas ao que tange a questão do diálogo inter-religioso nos dias atuais. Em sua primeira palestra, intitulada “Documentos sobre o diálogo inter-religioso”, tratou sobre alguns documentos mais emblemáticos para a questão. A segunda conferência foi sobre o diálogo islâmico-cristão. Por fim, fez um relatório falado sobre o diálogo inter-religioso a serviço da paz no ensinamento do Papa Francisco.
Segundo o bispo, o diálogo não deve ser considerado como uma mera preparação para a tarefa de anunciar ou proclamar Jesus Cristo e convidar as pessoas a tornarem-se membros da Igreja através do Batismo. “Ele tem o seu principal objetivo para garantir que as pessoas de diferentes religiões possam viver em harmonia e paz, que elas possam se entender melhor, trabalhar em conjunto para o benefício da humanidade e ajudar uns aos outros a responder ao chamado de Deus”, pontuou.
Sobre o diálogo inter-religioso
Dom Miguel iniciou sua primeira palestra falando sobre aquela que é considerada a carta magna, principal documento no que diz respeito ao diálogo inter-religioso: a declaração “Nostra Aetate” do Concílio Vaticano II, a qual, em 28 de outubro de 2015, celebrou seu 50º aniversário.
Segundo ele, essa declaração inspirou os membros da Igreja Católica em vários níveis, para promover relações de respeito e diálogo com pessoas de outras religiões, e continua a ser um ponto fixo de referência para estas relações.
“O Concílio ofereceu uma avaliação positiva das outras religiões, deu validade às novas iniciativas pastorais, criou bases sólidas para o diálogo inter-religioso e para a teologia católica das religiões”, afirmou o bispo.
Documentos
O primeiro documento oficial publicado pelo PCDI foi “A Igreja e outras religiões” (1984), conhecido como “Diálogo e Missão”. O documento coloca o diálogo inter-religioso no contexto da mais vasta missão da Igreja, inspirando-se nos fundamentos teológicos do Concílio Vaticano II.
Um pouco depois, em conjunto com a Congregação para a Evangelização dos Povos, o PCDI publicou o segundo documento: “Diálogo e Anúncio” (1991), no qual se tenta esclarecer a relação entre o anúncio da salvação em Cristo e o diálogo com pessoas de outras religiões. Em sua terceira parte, o documento trata da questão do respeito ao anúncio e ao diálogo, dois aspectos da missão evangelizadora da Igreja, que segundo o bispo são correlacionados, mas não podem ser usados como sinônimos.
“O diálogo e o anúncio não se contrapõem. O diálogo por si mesmo contém um elemento de anúncio, na medida em que implica o testemunho da própria fé, enquanto que o anúncio nunca pode ser uma imposição da verdade, mas deve ser sempre conduzido num espírito de diálogo”, explicou Dom Miguel.
Ele citou um trecho do documento em que se lê que “as diferentes formas de diálogo estão interligadas entre si”. O que significa que o diálogo permite o compromisso com a promoção de valores humanos e do bem comum.
Citou ainda como documentos que tratam sobre o tema, inteiramente ou em partes, a Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, do Papa Francisco, e o “Diálogo na verdade e na caridade. Orientações pastorais para o diálogo inter-religioso”, publicado em 2014, por ocasião do 50º aniversário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.
Papel do bispo na promoção do diálogo
Dom Miguel destacou ainda o papel do bispo na promoção do diálogo inter-religioso. Segundo ele, o pastor precisa estender seu cuidado e sua atenção a todos os que vivem no território da sua diocese. Ele não pode simplesmente se limitar aos católicos, embora a esses deva ser reservado o direito de prioridade na ação pastoral.
O presbítero explicou que os bispos, como mestres da fé e pastores do Povo de Deus, desempenham um papel central na educação e no estímulo do povo de Deus nos diferentes aspectos da missão evangelizadora, o que inclui o diálogo inter-religioso.
Neste momento, citou a Exortação Apostólica “Pastores Gregis”, de São João Paulo II. Dela, destacou três elementos: primeiro, o fato de o diálogo inter-religioso “fazer parte da missão evangelizadora da Igreja”; segundo, o fato de que cada membro do Povo de Deus vive, em sua realidade – seja no trabalho, na escola ou em outros ambientes, físicos ou não –, a dimensão do encontro inter-religioso; por fim, que é preciso atribuir a devida atenção à promoção do diálogo inter-religioso.
Para isso, destacou que é necessário que o bispo não tome para si toda a responsabilidade da promoção do diálogo e, sim, que crie estruturas necessárias, identifique as pessoas que são capazes e preparadas para também fazê-lo e as incentive a tomar a dianteira junto com o bispo nesse processo.
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Foto: Gustavo de Oliveira
27/01/2017 - Atualizado em 27/01/2017 14:56