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O VIII Simpósio Internacional de Teologia da PUC-Rio, que acontece até amanhã, dia 5 de outubro, traz temáticas do Documento de Aparecida (DAp), resultante da Conferência Episcopal Latino Americana (Celam) ocorrida em 2007. Na manhã de hoje, 4 de outubro, padre Josafá Carlos de Siqueira, biólogo, e Maria Clara Bingemer, teóloga, falaram sobre a ecologia e a opção preferencial pelos pobres no DAp.
O segundo dia de conferências teve início com a "Oração cristã com a Criação", conclusiva da encíclica "Laudato Si'", seguida do cântico "Oração de São Francisco", visto ser este o dia em que a Igreja celebra a memória do autor do Cântico das criaturas, que inspirou a encíclica Laudato Si'.
Ecologia
Padre Josafá Carlos de Siqueira, reitor da PUC-Rio, proferiu a primeira palestra, mostrando o paralelismo entre o Documento de Aparecida (DAp 470-475) e Laudato Si'. Para o biólogo jesuíta, o primeiro documento resgata a proposta de uma ecologia integral, mostrando que não é possível separar as questões ambientais daquelas sociais e teológicas. Ambos os documentos criticam o individualismo que enfraquece os vínculos comunitários, deixando de lado o bem comum.
Ilustrando com trechos dos respectivos documentos, padre Josafá tratou da perda da biodiversidade, da questão da água e da Amazônia, o que, para ele, demonstra a abrangência dos textos.
No que se refere à biodiversidade, destacou que o DAp resgata o entendimento de que as espécies têm valor em si mesmas e isso remove a pretensão antropológica de que o homem é quem atribui algum valor às criaturas. Já a Laudato Si’ evoca e ratifica uma leitura teocêntrica da criação, pois alerta que "a extinção das espécies implicaria em não haver como estas dar glória ao Criador, nem poderem comunicar-nos a Sua mensagem, inscrita na criação".
Sobre o tema da água, demonstrou que ambos os documentos criticam a mercantilização dos recursos hídricos e a crescente tendência de privatizar, tornando a água uma mercadoria sujeita às leis de mercado.
No que tange à questão da Amazônia, padre Josafá destacou a intensificação das disputas pela ocupação. Nesse sentido, segundo ele, a Laudato Si’ critica as propostas de internacionalização por parte das grandes corporações internacionais.
Por fim, Padre Josafá demonstrou, à luz dos documentos, o profetismo da Igreja, sendo ela a única interessada, efetivamente, na visão ecológica integral. Para ele, os documentos resgatam o conceito de "criação", em sua dimensão teológica e teocêntrica, em oposição ao de "natureza", que, não raro, extingue tais dimensões e, por conseguinte, pretende negar a ação e do Criador.
“A questão ecológica não me parece atemporal, pelo contrário: está presentes em ambos os documentos, Aparecida e Laudato Si'. Essa ligação feita pela Igreja é muito feliz porque reuniu uma preocupação da ciência, da sociedade, e da Igreja, mediando toda essa visão, que precisa de um olhar mais integral, o que acredito que a Igreja tenha condições de fazer”, afirmou o sacerdote.
Opção preferencial pelos pobres
Abordando a opção preferencial pelos pobres no Documento de Aparecida, a segunda palestrante do dia foi a professora Maria Clara Lucchetti Bingemer, titular do Departamento de Teologia da PUC-Rio.
Ela demonstrou como essa opção é central no documento e que desde a conferência está sendo também central no pontificado do Papa Francisco, que foi o coordenador do comitê de redação do documento conclusivo da conferência em 2007.
A teóloga resgatou a história recente dessa opção, ilustrando, inicialmente, com trechos dos documentos das últimas conferências latino-americanas para abordar características teológicas de fundo e as implicações pastorais. Segundo Bingemer, a opção pelos pobres está implícita desde o Vaticano II, particularmente na Constituição Pastoral ‘Gaudium et spes’.
“Para evitar o risco de que a opção pelos pobres fique apenas na teoria, seria necessária uma atitude permanente, que se manifesta em opções e gestos concretos. O caminho indicado pelo Documento de Aparecida para viver na alegria e na autenticidade essa opção, é o da amizade. Evita-se, assim, todo o paternalismo e sentimentalismo superficial”, explicou.
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04/10/2017 - Atualizado em 04/10/2017 20:31